domingo, 17 de setembro de 2017

Proteína ligada ao Parkinson pode viajar do intestino para o cérebro

26 de dezembro de 2016 - Ao longo de meses, aglomerados de uma proteína relacionada à doença de Parkinson pôde viajar a partir do intestino para o cérebro de camundongos, de acordo com um grupo de cientistas.

Os resultados do estudo foram publicados na reunião anual da Society for Neuroscience, e sugerem que, em alguns casos, o mal de Parkinson pode ter o seu início no intestino . Esse é um conceito intrigante, diz o neurocientista John Cryan, da University College Cork, na Irlanda. O novo estudo “mostra como a saúde intestinal pode ser importante para a saúde e o comportamento do cérebro.”

Collin Challis e seus colegas, da Caltech, injetaram aglomerados de alfa-sinucleína sintética (uma proteína conhecida por se acumular no cérebro de pessoas com Parkinson) no estômago e no intestino de camundongos. Os pesquisadores seguiram o caminho tomado pela alfa-sinucleína com uma técnica chamada CLARITY, que torna partes do corpo dos camundongos transparentes.

Sete dias após as injeções, os pesquisadores viram aglomerados de alfa-sinucleína no intestino. O pico dos níveis foram 21 dias após as injeções. Estes não eram os mesmos agregados de alfa-sinucleína que foram injetados, mas eram novos aglomerados, formados a partir da ocorrência natural da alfa-sinucleína, que os pesquisadores acreditam que foram persuadidas a formar pelas versões sintéticas em seu meio.

Também 21 dias após as injeções, aglomerados de alfa-sinucleína parecem ter se espalhado para uma parte do tronco cerebral contendo células nervosas que compõem o nervo vago – uma estrada neural que liga o intestino ao cérebro. Sessenta dias após as injeções, a alfa-sinucleína havia se acumulado no mesencéfalo, uma região repleta de células nervosas que produzem a dopamina, um mensageiro químico. Essas são as células nervosas que morrem em pessoas com Parkinson – uma doença cerebral progressiva que afeta o movimento.

Depois de atingir o cérebro, a alfa-sinucleína se espalha graças às células cerebrais chamadas de astrócitos, de acordo com um segundo estudo. Experimentos com células in vitro mostraram que astrócitos podem armazenar e espalhar alfa-sinucleína entre as células. Esse trabalho foi apresentado por Jinar Rostami, da Universidade de Uppsala, na Suécia, em uma entrevista coletiva.

A acumulação gradual e a disseminação da alfa-sinucleína causaram problemas nos camundongos. À medida que os agrupamentos de alfa-sinucleína lentamente se arrastavam para o cérebro, os camundongos começaram a exibir problemas de intestino e de movimento. Sete dias após as injeções, as fezes dos camundongos eram mais abundantes do que o habitual. Sessenta e noventa dias após as injeções – depois que os aglomerados de alfa-sinucleína haviam atingido o cérebro – os camundongos realizaram alguns testes físicos de maneira menos eficiente. De muitas maneiras, os camundongos se assemelhavam a outros camundongos que têm mutações que causam sintomas semelhantes ao Parkinson, disse Challis.
Usando um método que tornou o tecido translúcido, os pesquisadores puderam ver aglomerados de alfa-sinucleína (verde) no intestino de um camundongo misturado com células nervosas (vermelhas) e astrócitos (brancos). Os núcleos celulares são azuis. Créditos: COLLIN CHALLIS, GRADINARU GROUP/CALTECH.
Um estudo anterior mostrou evidências de que grupos de alfa-sinucleína podem se mover do intestino para o tronco encefálico em ratos, mas esses experimentos observaram escalas de tempo mais curtas, disse Challis.

A idéia de que a alfa-sinucleína pode se espalhar do intestino para o cérebro é muito nova, diz Alice Chen-Plotkin, uma clínica e pesquisadora de Parkinson do Hospital da Universidade da Pensilvânia. Estes e outros resultados têm levado os cientistas a começar a olhar para fora do cérebro, para os estágios iniciais da doença, diz ela. “Cada vez mais, as pessoas estão se perguntando se ela começa mais cedo.”

Algumas evidências sugerem que o intestino é um bom lugar para se investigar. Pessoas com doença de Parkinson muitas vezes sofrem de problemas intestinais, como constipação. Em 2015, os cientistas relataram que um grupo de pessoas dinamarquesas que tiveran seus nervos vagos cortados eram menos propensas a desenvolver a doença de Parkinson. Com esse corte no caminho que permite o trânsito da alfa-sinucleína do intestino para o cérebro, a doença é menos provável de aparecer, sugere o estudo.

Não está claro porque a alfa-sinucleína se acumula no intestino inicialmente. “Há um monte de teorias”, diz Challis. As bactérias podem produzir compostos chamados curli, que fazem a alfa-sinucleína agregar, como sugere um estudo recente. Pesticidas, refluxo ácido e inflamação são outros possíveis culpados que poderiam, de alguma forma, aumentar aglomerados de alfa-sinucleína no intestino, disse Challis.

Matéria originalmente traduzida de Science News, por Vinicius de Oliveira Mussi.

Revisado por Igor Augusto G. Cunha.
Fonte: A Geração Ciencia.

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