sábado, 27 de maio de 2017

Conheça o transtorno neurológico que faz rir e chorar sem controle

Afeto pseudobulbar faz o paciente perder o controle da manifestação de emoções
Também conhecido como transtorno da expressão emocional involuntária, o afeto pseudobulbar costuma ocorrer em pessoas que sofreram AVC, traumatismos cranianos e em quem convive com esclerose 

16/05/2017 - Uma simples piada desencadeia uma risada histérica de mais de meia hora. E uma pergunta sobre a escovação dos dentes pode provoca um choro copioso, como se a pessoa tivesse recebido a notícia da morte de um amado. Essas são possíveis vivências de pacientes com  afeto pseudobulbar, um transtorno que faz o indivíduo perder o controle das próprias emoções e que costuma aparecer após traumatismos no crânio ou doenças neurológicas.

"É uma situação em que a pessoa tem manifestações de riso ou choro sem motivo ou contexto apropriados. Você está conversando com a pessoa sobre um assunto banal e ela começa a chorar, sem ser um assunto triste", resume Jerusa Smid, neurologista do departamento científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

Ocorrências: O afeto pseudobulbar costuma ser um sintoma de pessoas que sofreram acidente vascular cerebral (AVC), traumatismo craniano, tumor no cérebro ou que vivem com esclerose lateral amiotrófica (ELA), esclerose múltipla e demências como doenças de Alzheimer e de Parkinson.

O transtorno afeta de 1,8 milhão a 7,1 milhões de pessoas nos Estados Unidos, segundo uma revisão de estudos publicada no periódico Therapeutics and Clinical Risk Management. Normalmente, o problema é associado a pacientes com algum grau de demência ou problemas cognitivos e motores - como idosos com Alzheimer e Parkinson ou pessoas com esclerose, caso de Stephen Hawking.

Contudo, o afeto pseudobulbar pode afetar uma pessoa saudável, com vida social normal, que sofreu um acidente. A American Society for Advancement of Pharmacotherapy publicou, em janeiro deste ano, uma revisão de estudos sobre o transtorno no qual traz apontamentos importantes nesse quesito.

Entre eles, a entidade afirma que, apesar de o problema ser mais associado a pessoas que sofreram acidentes que resultaram em um traumatismo craniano grave, o afeto pseudobulbar também ocorre em indivíduos que sofreram traumatismos leves. Aliás, em um dos estudos revisados, de todos os voluntários que se acidentaram e desenvolvem o problema, 89% classificaram o acidente como 'leve'.

Resultados assim defendem novas perspectivas: o afeto pseudobulbar não é só problema de quem está com a função cognitiva gravemente prejudicada.

"Mesmo pessoas que sofreram um trauma leve, sem perder a consciência ou a memória, podem desenvolver o afeto pseudobulbar. Um exemplo é a pessoa dirigir, frear de forma brusca e ter um efeito chicote no qual bate a cabeça", aponta Luciano Talma Ferreira, neurologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB).

Alguns anos atrás, a pequena Enna Stephens, de sete anos, ficou famosa ao aparecer em uma reportagem do Daily Mail por ter crises de riso de 15 minutos nas três primeiras semanas após uma cirurgia para retirar um tumor no cérebro. O procedimento foi um sucesso e a garota tinha uma vida normal. Mas as risadas persistiram por meses, até desaparecerem.

Causas e tratamento. O afeto pseudobulbar ocorre quando há uma lesão no córtex frontal, no tronco cerebral ou no cerebelo, estruturas responsáveis por administrar nossas emoções. Ao serem danificadas, elas perdem o 'controle' que exercem sobre a manifestação de nossas emoções, explica Carolina Machado Torres, neurologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

A condição pode ser confundida com uma doença psiquiátrica. Conforme a revisão de estudos publicada no periódico Therapeutics and Clinical Risk Management, uma das pesquisas consistentes analisadas aponta que de 30% a 35% dos pacientes com afeto pseudobulbar têm depressão.

"Muitas vezes, os pacientes neurológicos costumam ter quadros psiquiátricos em comorbidade. Assim, o choro desmotivado passa despercebido, porque o médico acha que o paciente está chorando por ter sequelas ou por ter passado por uma doença grave", ressalta Carolina.

Mas há fortes diferenças. "O choro, no transtorno da expressão emocional involuntária, é independente das mudanças no humor. [Se] Na depressão, ele dura semanas ou meses, no transtorno da expressão emocional involuntária ele se caracteriza por episódios curtos e estereotipados", escrevem pesquisadores de Minas Gerais em um artigo publicado na Revista de Psiquiatria Clínica.

O afeto pseudobulbar não tem cura, mas pode ser tratado com antidepressivos para diminuir a intensidade das crises. "Os antidepressivos aumentam a ação da serotonina no cérebro, então eles exigem que a pessoa precise de um estímulo mais forte para rir ou chorar. Isso controla as crises", explica Carolina.

Atualização: Diferentemente do que foi publicado anteriormente, os antidepressivos não têm serotonina, e sim aumentam a ação da serotonina no cérebro. Fonte: O Estado de S.Paulo.

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